PATRÍCIA
ARIANE
ENTRELINHAS
A mecânica quântica é a teoria física que estuda os sistemas físicos cujas dimensões são próximas ou abaixo da escala atômica, tais como moléculas, átomos, elétrons, prótons e de outras partículas subatômicas, muito embora também possa descrever fenômenos macroscópicos em diversos casos.
Os átomos e a forma como eles interagem com a luz foram a base da mais surpreendente das teorias da física.
Ao estudar a emissão de calor e luz de um objeto quente, o físico alemão Max Planck propôs que a luz é liberada em “pacotes”, denominados fótons. Em outras situações, porém, a luz se comporta como uma onda, sem “pacotes”. Segundo a teoria quântica, a definição correta da luz é: ela é onda e partícula. Portanto, coisas que normalmente vemos como partículas ou objetos sólidos – o pão consumido de manhã ou o veículo que leva você ao trabalho, por exemplo – também possuem um comportamento de onda em sua natureza. Pela teoria quântica, qualquer coisa pode ser descrita como onda.
A estrutura do átomo é formada pelo núcleo, que é constituído por duas partículas (prótons e nêutrons), e pela eletrosfera, que detém os elétrons. Os átomos são partículas infinitamente pequenas que constituem toda matéria no universo.
Tendo conhecimento deste fato e de toda informação já mencionada até agora, podemos dizer hipoteticamente que eu, você, todas as outras pessoas que existem na Terra, árvores, e até mesmo objetos inanimados seriamos, na verdade, um único ser.
Se analisarmos o conceito do funcionamento da visão humana e correlacionarmos com a proposta de Max Planck; imagéticamente falando, podemos dizer que projetamos a realidade que vivemos pelo nosso cérebro. Ou seja, as sete bilhões de pessoas no mundo também são você. E cada uma dessas sete bilhões de pessoas também estão a projetar realidades, por isso, podemos ainda sugerir que não apenas vivemos uma única realidade, como muitíssimas, senão infinitas realidades acontecendo ao mesmo tempo. E isto não é apenas uma suposição da minha cabeça. Existe uma teoria chamada Interpretação dos Muitos Mundos, proposta pelo físico Hugh Everett, em 1957. Segundo Everett, a onda nunca entra em colapso, todas as possibilidades de localização da partícula seriam igualmente verdadeiras, criando, assim, a cada instante, uma infinidade de bifurcações quânticas, cada uma dando origem a um universo paralelo, onde tudo que pode acontecer, de fato, acontece (em algum lugar). Se somos feitos de átomos, então podemos dizer que sim estamos quânticamente nos bifurcando a todo momento e assim também está todo o nosso conhecimento, em diversos níveis.
Ou seja – existem milhões de versões de você mesmo, cada uma vivendo em um universo levemente ou completamente diferente, e a cada momento que você toma uma decisão, existe algum outro “você” que tomou a decisão oposta, e que está por aí, em algum universo paralelo. Esse “lugar”, essa soma de todos esses universos paralelos quânticos, é conhecido como Espaço Hilbert.
Na prática, isto significa que, quando uma pessoa mata outra, ela está matando a si mesmo e que cada ato de bondade é um ato de bondade a si mesmo.
A artista Patrícia Ariane propõe transportar essa aproximação e interação entre as diversas áreas do saber, nesse contexto; a ciência, filosofia, espiritualidade, física e biologia, para citar algumas; para a dimensão material e tangível através do fazer artístico, e, pela poética artística, sintetizar, como uma boa equação sintetiza uma imensa quantidade de dados em um centímetro quadrado de papel, todas essas “áreas de associações” onde as ideias, teorias, os sentidos, as lembranças e os pensamentos são integrados para produzir uma cena consciente única, o tecido do qual nossa experiência é feita.
A proposta é criar uma instalação que comunique a interação entre essas diversas áreas do conhecimento a partir da ideia de um tecido de realidades paralelas, nesse caso cada “realidade” sendo representada por um fio de LED luminoso da cor lilás.
Uma estrutura de madeira (do tipo escura, para que não seja muito visível no ambiente) retângular de 3 metros de largura, por 4 metros de comprimento e 69 centímetros de altura será montada no 4o andar do espaço expositivo do Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo no período de abril de 2021, e permanecerá no espaço ao decorrer de 30 dias (+ 3 dias para montagem, desmontagem e um ensaio).
No primeiro e segundo dias da exibição da instalação também acontecerá uma performance. A própria montagem da instalação será a performance. A estrutura de madeira estará previamente montada, porém os fios serão instalados ao vivo, com a presença do público que será previamente convidado, podendo esse público ser, no primeiro dia, por exemplo, funcionários de empresa participante na captação, caso seja necessária captação externa, e no segundo dia, aberto, para que o público em geral também possa prestigiar a performance.
Da vertical (lado com 4 metros) partirão 9 fios de LED, e da horizontal (lado com 3 metros), partirão 7 fios. Cada fio será puxado por uma pessoa, ou seja, a performance contará com 16 pessoas. Cada participante estará vestido com uma espécie de ceroula na versão calça, de cor cinza claro, e blusa de manga comprida, também na cor cinza claro, pois a performance será realizada no escuro, com focos de iluminação nos cantos do espaço expositivo e direcionado para a parede, e é importante para o efeito visual do projeto o reflexo da luz de LED nas roupas. Ensaiaremos 5 vezes em um salão alugado e gostaríamos de ensaiar um dia antes da performance no próprio local de instalaçao pois também haverá momentos que puxaremos os fios pelo público e por todo os espaço expositivo.
Cada participante, puxará o fio de uma extremidade a outra, e quando chegar do outro lado, fixará o fio na estrutura de madeira fazendo várias voltas no fio para que não ceda. A medida que os fios vão sendo anexados a estrutura de madeira, o participante começa a interagir com os fios que foram anexados por participantes anteriores, ou seja, em determinado momento, cada participante precisara se movimentar de forma a passar por cima do fio de LED já anexado, ou por baixo, para que o TECIDO de fios possa ser criado a partir do entrelaçamento dos fios. Também haverá momentos em que um participante irá de encontro ao outro e nesse momento eles podem se abraçar, ou fazer um carinho no rosto, algo a simbolizar harmonia, amor e serenidade, tendo como resultado da performance um verdadeiro e simbiótico ballet de luzes e movimentos.
Enquanto o entrelaçamento dos fios vai acontecendo, tocará simultaneamente uma composição abstrata criada pela artista, caracterizando a obra como multidisciplinar. Inspirada na fenomenologia e Goethe, uma ciência sobre a experiência que se torna consciente do mundo, na relação entre a consciência humana e o mundo fora dela, e diversos artistas como David Bowie, Grace Jones, Jean Michel Basquiat "Gray" s, György Ligeti, Luigi Nono e também dialoga com a Sociedade da Informação, através de várias camadas de harmonias fragmentadas surreais, produzidas a partir do uso de máquinas de samples, sintetizadores, efeitos digitais e o uso de instrumentos Avant-Gard construídos a partir de materiais não convencionais, como chaves, contas de metal, e vidro.
No decorrer da tecelagem dos fios, A apresentação da Instalação será realizada a definir, às 19 horas, terá a duração de uma hora e será filmada no primeiro dia. A partir do segundo dia, as filmagens da construção da instalação serão projetadas na parede e transmitidas aos visitantes durante o período expositivo.